sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Mas e você? Seu corpo fala, mas você o escuta?
Sua boca cala, mais seus dedos sangram
Há uma dor no peito, o estômago contrai
O intestino inflama o que alma reclama
Mas e você? Que tem haver com isso?
Com esse desejo de nada, com essa fome que abala
Com essa angústia que mascara.
Mas e você? Até quando vai deixar a vida
Por uma verdade escondida?
Atrás de um fantasma que te ameaça e persegue
...
...O preço que se paga por um desejo traído pode
valer a vida, mas e você? Que quer haver com isso?
Que tem com isso? Aliás, quer saber?
Que super-eu é esse que assombra, a verdade que
arromba a infância mal dita, mas esquecida
Mas e você, o que você quer?
Quer passar por essa dor? Ou nela ganhar e gozar
os deleites da vida?
Mas e você? O que você quer?"

domingo, 18 de novembro de 2012

ANGST: MEDO, ANGÚSTIA e ANSIEDADE EM PSICANÁLISE

ANGST: MEDO, ANGÚSTIA e ANSIEDADE EM PSICANÁLISE


[1],DANIELE BAGGIO;

Este trabalho visa levantar uma reflexão acerca do termo ansiedade e suas traduções segundo a teoria psicanalítica de Freud e Lacan. Buscando através de dicionários, livros, críticas a respeito do sintoma e sua atualidade diagnóstica, traçando um referencial histórico que contextualiza a visão da clínica médica e psicanalítica.

A Ansiedade conforme HANNS, 1996, p. 65 se refere a expectativa. Uma expectativa inquieta por algo que ocorrerá. Podendo ser por uma alegria ou por uma ameaça ou simplesmente pelo desenlace de algo. No dicionário Aurélio, 1993, p. 33  Ansiedade é o estado afetivo em que há sentimentos de insegurança. É só no emprego da linguagem médica que o dicionário a define como receio sem objeto específico. No português nem sempre é possível diferenciar ansiedade e medo. A ansiedade mesmo quando ligada ao medo, se refere a uma inquietação medrosa perante um perigo sem resolução, é uma ameaça que ainda não é imediata, o medo é geralmente uma reação a algo mais imediato.
Freud utiliza o termo Angst  que significa medo, é traduzido para o português como ansiedade (segundo a tradução inglesa, anxiety) ou como “angústia” (de acordo com a tendência francesa, angoisse). Nem sempre é possível diferenciar os termos medo, ansiedade e angústia entre si. Tanto Angst como Furcht temor, podem corresponder a ansiedade e mais raramente a angústia, a rigor, nem um ou outro destes termos correspondem em alemão a ansiedade ou a angústia.
Angst significa medo e indica um sentimento de grande inquietude perante ameaça real ou imaginária de dano.
Furcht significa medo no sentido de receio, temor. Refere-se a objetos específicos.
Para Hanns, 1996, p. 73, há duas teorias freudianas de Angst em que ao longo da obra de Freud encontram-se diversas elaborações a respeito da Angst. Freud após 1925, se refere com frequência as suas duas teorias, embora até certo ponto as teorias se superponham e entrelacem. Até 1925 o termo Angst é entendido como o efeito de um excesso de estímulos (Reize) represados devido a não satisfação pulsional. O sujeito impedido de descarregar a libido sexual sobre sob o acúmulo de excitações, as quais, para conseguir se fizer descarregar, se transformariam em sintomas de medo (ou angustia, ansiedade), provocando sudorese, taquicardia, contrações musculares etc. Circunstâncias externas concretas ou uma maturação ainda insuficiente, impedindo o sujeito de satisfazer livremente seus anseios pulsionais, produziriam então estados de Angst. É antiga a ideia em Freud, de que o excesso de (Reize) é vivido pelo sujeito como algo avassalador que o leva a um estado de medo e desamparo. Freud afirma que, por impedir o sujeito de satisfazer as exigências pulsionais, o recalque acaba por produzir as várias formas de Angst neurótica. Mesmo tendo em 1925/6 reformulado sua teoria sobre a Angst, Freud mantém a ideia de que o sujeito exposto ao excesso de exitação vive uma situação de desamparo, necessitando lidar com o turbilhão de estímulos que o acometem. Após ter desenvolvido a segunda tópica, Freud passa a situar o Eu como local do medo e apresenta outra concepção da relação entre “Recalque” e Angst. Inverte a sequencia anterior recalque produz Angst e afirma que será a Angst que o Eu sente perante o perigo que levará o sujeito ao recalque. Basicamente, medos tais como o temor a castração ou o medo da perda do amor materno é que levarão o sujeito a recalcar suas tendências libidinais.
Mesmo alterando sua concepção sobre os mecanismos de geração de Angst e apesar de empregar o termo ora como designação técnica de um quadro psiquiátrico, ora como descrição fenomenológica de sentimentos, ora numa acepção psicanalítica, a maneira como Freud utiliza a palavra ao longo da obra tende a reunir as mesmas características conotativas que Angst possui no alemão coloquial. Pode se dizer que Angst envolve simultaneamente o sentido de algo antecipatório (neste sentido, semelhante a ansiedade); um fenômeno de caráter intenso, altamente reativo (neste sentido, significando medo) algo que se vincula ao perigo e muitas vezes aproxima-se da fobia e do pavor (neste sentido, assemalhando-se a pânico).
Após estudarmos um pouco sobre o significado do termo, vejamos alguns pontos importantes sobre o nascimento e/ou surgimento da clínica médica e da psicanálise.
 O significado do termo clínica segundo Doron & Parot (1998), “(...) originariamente, a atividade clínica (do grego klinê – leito) é a do médico que, à cabeceira do doente, examina as manifestações da doença para fazer um diagnóstico, um prognóstico e prescrever um tratamento” (Doron e Parot,1998, pp.144-145).
Segundo o artigo “O surgimento da clínica” 2007, o início da clínica médica se fez pela observação e entrevista e esses  procedimentos influenciaram o saber psi. Para a medicina é impossível diagnosticar sem antes saber os antecedentes da doença. Porém nem sempre foi assim, antes de Hipócrates a medicina estava mais ligava as forças sobrenaturais que afetavam o ser humano. Hipócrates criou os primeiros fundamentos científicos para diagnosticar doenças mentais, com base na teoria do desequilíbrio dos quatro humores. Hipócrates inaugurou também a observação clínica, criou a anamnese, definindo-a como a primeira etapa do exame médico. Aliás, o próprio exame médico foi por ele introduzido na clínica, objetivando a obtenção de dados para a elaboração do diagnóstico e do prognóstico.
            Segundo Foucault, ano/2011 foi no início do século XVIII e início do XIX que despontou a clínica médica, este período é marcado por inúmeras descobertas e instrumentalização médica advinda de observações e estudos, que muito contribuíram para os diagnósticos. Porém vale lembrar que a clínica surgiu com Hipócrates e este período seria o de crescimento e auge da medicina.
Mas a preocupação de Foucault era de efetuar uma análise histórica da constituição dos saberes das ciências humanas fazendo uma articulação sobre o discurso médico que embasa o campo de atuação e de produção científica dentro de fatores sociais, políticos econômicos tecnológicos e pedagógicos, e que evidencia as relações discursivas que “fabricam” a doença e seu tratamento.  O corpo torna-se, assim, motivo de controle disciplinar e tecnológico.
Na fase de Genealogia do Poder, Foucault lança um olhar crítico sobre as relações de poder associadas ao saber. Desta forma os discursos tidos como verdadeiros agora são objetos do poder. Esse poder recebe o nome de biopoder, poder sobre a vida. Esse biopoder exerce vigilância sobre a subjetividade e esses sistemas de controle social são praticados tanto pela medicina quanto pela psicologia. Haja vista que a cada dia o controle tecnológico através de modelos tem o intuito de ajustar as distintas materialidades que tem a seu cargo, atuando no cotidiano do sujeito, normalizando a população e regulando as políticas de saúde através de um arsenal técnico cada vez mais especializado.
Desta forma o século XX conta com a abundância de tratamentos sofisticados e o eleva do nível de especificidade médica, se abstendo do leito e fragmentando o sujeito.
Freud imprime então na história algumas inovações na clínica psicanalítica em que há um deslocamento do saber. Não é mais o médico que o detém, mas o cliente, contudo é um saber que não se sabe, é inconsciente. Freud inaugura também a transição entre a clínica do olhar á clínica da escuta. O paciente então através da fala elabora e encontra sua verdade no próprio inconsciente. Outra contribuição de Freud é a revelação em que as doenças não são curadas pelo medicamento, mas pelo médico, pela presença, pela transferência que exerce uma influência psíquica. Freud nos traz ainda a perspectiva de que ao tratar o paciente como sujeito de sua história e de seu sintoma o responsabiliza como tal no adoecimento que se encontra e o implica como sujeito de sua questão e não apenas como objeto.
Desta forma e a partir das contribuições de Freud podemos adentrar um pouco na atualidade. Segundo Ribeiro, 2003/2011, p. 49-53 a partir da segunda metade do século XX podemos observar um enorme avanço científico, principalmente no campo da neurofarmacologia. Os imperativos do discurso capitalista que financia pesquisas que geram novas drogas, que por sua vez precisam ser consumidas, para financiar novas pesquisas, exigem que o médico seja objetivo e seguro, operando, portanto fora do campo da transferência onde o “efeito sujeito” é o que está presente. O aspecto mais sério desse tipo de desenvolvimento indesejável do discurso da ciência a serviço do capitalismo reside no ponto de vista ético. Transformar o sujeito na vítima de seu funcionamento cerebral ou de seus neurotransmissores é irresponsabiliza-lo por sua vida, é troná-lo politicamente amorfo, desacreditado em sua capacidade de mudança. Vemos assim, em nome da ciência, uma regressão conceitual a mais de cem anos atrás.
Lacan em sua conferência “A Terceira” destacou alguns pontos importantes sobre o capitalismo, articulando sobre a ética e a constatação da impossibilidade de pensá-lo apenas como valor de uso. Também articulou em relação ao pulsional fazendo relação com o objeto oral e as fantasias de devoração que faz um deslizamento da posição da posição de consumidor á de objeto consumido.
O gadget é um sintoma do delírio funcional contemporâneo que toma o objeto como fonte de satisfação.
O discurso psicanalítico só pôde avançar através da clínica, onde as histéricas fazem um marco referencial para se compreender o sentido do sintoma, ouvindo o discurso neurótico Freud pôde demonstrar o sentido do sintoma, um sentido inconsciente, ou seja, o sintoma diz alguma coisa, mesmo que o sujeito não saiba disso. Não somente diz mas serve como uma satisfação reconhecida pelo sujeito como um sofrimento, é paradoxal, é uma satisfação sexual e também seu sofrimento. No texto “Os Caminhos da Formação dos Sintomas” 1917/80 Freud nos mostra que, pelos mecanismos de condensação e do deslocamento o sintoma tornou-se uma satisfação substituta de uma série de fantasias e de recordações de experiências traumáticas do início da vida sexual.
A partir de 1920 Freud aponta para a noção de pulsão de morte, para além do princípio do prazer há um real de gozo impossível de ser representado, demonstrando o caráter problemático da realidade psíquica que se expressa no sintoma.
Em 1926/1980 “Inibição, Sintoma e Angústia” Freud apresenta o sintoma como “um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que permaneceu em estado jacente; [o sintoma] é uma consequência do processo de recalcamento” (Freud, 1926/1980, p. 112).
Segundo Dias 2006, no curso da investigação de Freud, ele  introduz a relação altamente significativa entre a geração de angústia e a formação de sintomas, verificando que os dois processos se representam e substituem um ao outro. A partir da análise da fobia de Hans, conclui que a angústia, essência da fobia, provém não do processo de recalcamento, como acreditava anteriormente, mas do próprio agente recalcador; ou seja, a angústia está na origem e põe o recalcamento em movimento e,
consequentemente, põe a formação de sintomas em movimento.
A angústia se manifesta sob a forma de “um medo realístico, o medo de um perigo que era realmente iminente ou que era julgado real” (Freud, 1926/1976,p. 131). A angústia é a reação a esse perigo e o sintoma é criado para evitar o surgimento do estado de angústia.
A angústia é, portanto, uma reação a uma situação de perigo. A reação de angústia sinaliza a presença de uma situação de perigo, e é para fugir a essa situação de perigo que se criam sintomas. O perigo, aquilo que é temido, é evidentemente a própria energia pulsional.
Podemos nos questionar então qual seria a saída para o sujeito emergente deste discurso capitalista e a relação da psicanálise com a felicidade. Para isso podemos adentrar no conceito de desejo que é humano e que não é o mesmo que felicidade. Pois necessidade é um conceito biológico que impele o sujeito ou o organismo a ir em busca de reduzir essa tensão ou satisfação, já o desejo é de ordem psíquica, é desnaturado e como tal pertence a ordem simbólica. Enquanto a necessidade implica a busca em objetos específicos o desejo implica uma relação com o fantasma, inconsciente. Ao fazer um apelo, um pedido o sujeito demanda algo a alguém e além do alimento no caso do bebê que chora com fome vem o acalento, a fala, a mãe o que faz da demanda por alimento ser sempre uma demanda a algo a mais que lhe falta.  A demanda e o desejo fazem aparecer a falta-a-ser. A satisfação do desejo é sempre adiada e nunca atingida, o desejo busca o impossível.
Conforme Lima e Fregonezzi 2006,  o desejo se vê obrigado a buscar outro caminho, a realização. Através de meios-objetos como a fantasia do seio, o sintoma, um beijo, o gozo da droga, o gozo do poder político, o gozo do discurso teórico da fé, o gozo do rico que priva o outro de também ter, o gozo de quem imputa sofrimento a outrem etc. Todas essas formas de realização são marcadas por insatisfações primitivas que se atualizam. O sujeito vive em estado de excitação contínua: prazer e desprazer ao mesmo tempo. A pulsão e o desejo nos diferenciam dos animais estes são seres de puro instinto, seres de necessidade. Os seres humanos por serem desejantes, seres de linguagem são condenados a sentir, primeiro mal-estar e angústia, depois por serem impulsionados para algo que se supõe trazer a felicidade, um estado de completude de não falta.
  A psicanálise não ensina o sentido da vida, mas ao questionar sua história e suas escolhas, permite ao sujeito encontrar um sentido para sua vida, do que possa ser as felicidades possíveis, sendo ele o autor de sua própria história.
Para concluir e exemplificar sobre o desejo na psicanálise, transcrevo um fragmento de um caso clínico da Revista Latino americana de psicopatologia fundamental.  Angélica, médica, procurou a psicanálise apresentando seu próprio diagnóstico, doença de pânico: crises de angústia sem razão aparente, sentia descompasso cardíaco, sudorese, aperto no peito e muito medo de morrer. E aparecem do nada, comenta. Vivendo silenciosamente suas crises, entre as quais sentia-se permanentemente angustiada, conclui o curso de medicina e em seguida casa-se planejando para sua vida ser dona-de-casa e mãe, deixando de lado a profissão que, segundo ela, a expunha a todo tipo de perigo e em particular o pior deles, o confronto com a morte. “Porque se meu medo fosse de leão ou de tigre seria simples, bastaria não viajar a África, mas sendo a morte, como posso exercer essa profissão? E faz a pergunta que dá início ao seu processo analítico, qual a saída para meu problema? Ela interroga o desejo de ser médica paralisado pelo medo do confronto com a morte, tanto a sua quanto do Outro.
Um dia A. acompanha a mãe a uma cirurgia reparadora após a qual subitamente, a mãe vem a falecer. Neste momento ela pensa: Como vou ser médica? A analista questiona o fato dela pensar isso num momento tão difícil. Ela se dá conta do desejo. A. se escondia, jamais usava roupa branca ou levava a maleta; na rua não socorria a ninguém poderia ser um aviso prévio diante da morte. Angélica queria ser a mama, após a morte de sua mãe aparece a fobia como um sinal do próprio desejo. A. engordou 40 quilos e só se vestia de preto mais em seus sonhos aparece magra e vestida de branco. Associando ao sonho A. diz que a engorda dela é uma tentativa de consolar a viuvez. O pai de Angélica dias depois a chama para uma conversa e em sua fala diz algo muito importante para Angélica neste momento, mesmo sem saber. Diz a ela que quer viver seu luto sozinho e pede a A. que siga sua vida. (-Minha filha, sou viúvo!). O pai nesta fala, dá um limite simbólico e importante para o momento. O pai lhe mostra o álbum de foto e ela vê seu peso, estatura de quando nasceu, seu acompanhamento e desenvolvimento, e tira a conclusão que quando bebê só depois de um ano conseguiu engordar por que sua mãe lhe desejou e amamentou. Pensando sobre a nutrição dela, pensa quer ser pediatra para ajudar ela e as outras crianças, a analista questiona outras crianças? Ela ri.
Só no momento em que ficou sem a mãe e quando foi dispensada pelo pai da suposta tarefa de atendê-lo, despossuída da fantasia tão cara de suplência da mãe, é que Angélica finalmente faz das palavras, ação. Faz uma dieta baseada na nutrição para emagrecer e finalmente exerce sua profissão. O medo não desaparece totalmente, mas já não a impede. O medo e o desejo se tornavam motor na peculiar travessia. Ou como disse Lacan o remédio para angústia é o desejo.

REFERÊNCIAS


DIAS, Maria das Graças Leite Vilela. “O Sintoma: De Freud a Lacan.” Artigo internet http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n2/v11n2a18.pdf. Acesso em 11/11/2012.

DORON, R.; PAROT, F. (orgs.) Psicologia Clínica. Dicionário de Psicologia. Vol. I. São Paulo: Ática, 1998, pp. 144-145.

EDLER, Sandra P. B. “Desejo, Remédio para a angústia” Artigo internet http://www.sumarios.org/sites/default/files/pdfs/61939_7095.PDF Acesso em 11/11/2012.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p.33.

FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. p. 231.
FREUD,Sigmund. “Inibição, Sintoma e Angústia”(1926),v.20, Rio de Janeiro: Imago,1976, p.95-207.
HANNS, Luiz Hanns. Dicionário comentado do Alemão de Freud. 1996. p.62-79.

LIMA, Raymundo e FREGONEZZI, Marta. “A Felicidade existe?Freud, a psicanálise e felicidade”.Artigointernethttp://www.espacoacademico.com.br/059/59esp_limafregonezzi.htm. Acesso em 11/11/2012.

OLIVEIRA, Jacqueline, ROMAGNOLI, Roberta e OLIVEIRA, Edwiges. O Surgimento da Clínica Psicológica: Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde. Revista Psicologia, Ciência e Profissão, 2007, p. 608-621.


[1] Psicóloga, Psicanalista, Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano. Mestranda em Psicanálise pela UK. Professora e Supervisora Acadêmica – CESMAC.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Informe I

O primeiro capítulo de minha tese investiga o conceito de pulsão em Freud, transcorrendo os textos: Projeto para uma psicologia científica (1895); Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905); Pulsões e Destinos das Pulsões (1915) e Mais Além do Primncípio do Prazer (1920). No primeiro texto, Freud toma o conceito de Pulsão da física e engenharia "Trieb" para aclarar que a energia vem algum lugar, isto é a pulsão é uma força motriz que impulsiona o sujeito a realizar algo e tal energia provém de uma trieb. Desta forma, tão cedo Freud já descobre que todo organismo tende a descarregar o mais rapidamente possível todo o excesso de excitação, isto é, reduzir a zero toda energia, o que é impossível, pois seria a morte. Essa tendêndia é chamada por ele de princípio de inercia. Mas em algumas vezes o sujeito precisa aprender a esperar, por que sua realidade não permite que se descarregue tão rapidamente tal excitação, o que ele chama de princípio de constancia. Por exemplo, um bebê que sente fome, há uma necessidade interna (endógena) de algo que sente, não adianta chorar para matar a fome, é preciso uma ação específica, um alimento que sacie, então neste intervalo em que chora e o Outro venha a lhe trazer alimento, teve que esperar, tolerar a excitação, o que é  força a barra, pois a tendëncia original é que o organismo descarregue a tensão a zero. Nos três ensaios Freud fala sobre de uma  energia que surge nas zonas erógenas e que tem duas classes: as pulsões de autoconservação e as pulsões sexuais, que mais uma vez fracassam em ser descarregadas totalmente, pois, só podem ser satisfeitas parcialmente, pelo prazer de comer por exemplo que tem haver com a necessidade de nutrição (auto-conservação) e também com o prazer na boca, (zona-erógena). No texto Pulsões e destinos das pulsões Freud relata que a pulsão é um conceito fronteira entre o somatico e o psíquico, isto é, surge no somático, corpo e atravessa o psíquico e coloca 4 destinos para as pulsões: a transformação em seu contrário, o redirecionamento contra própria pessoa, a repressão, a sublimação e mais adiante acrescenta a angústia. Em Mais além do Princípio do Prazer Freud aborda sobre a compulsão a repetição que é um rasgo da pulsão de morte, pois já que desde o início o sujeito tenta satisfazer a pulsão e não consegue essa tende a voltar, sempre, repetir e repetir o que é uma questão de morte já que a tendência desta é satisfação plena, a morte.
Adiante meu tema pretende investigar a afirmativa de Lacan, que toda pulsão é de morte e plantear esta discussão a partir da clínica psicanalítica. Ora se a cada paciente há um circuito pulsional estabelecido, que se repete, a partir da transferência, o analista deve então saber qual a gramática pulsional, isto é a palavra e a entonação certa para cortá-lo, freá-lo nesta pulsão, que toca o real e o corpo. ??