segunda-feira, 19 de maio de 2025

A FORMAÇÃO DO ANALISTA, A ESCOLA EM CAMPO[i] Membros, instâncias, funcionamento

 

 

A FORMAÇÃO DO ANALISTA, A ESCOLA EM CAMPO[i]

Membros, instâncias, funcionamento

 

THE TRAINING OF THE ANALYST, THE SCHOOL IN THE FIELD

Members, instances, functioning

 

LA FORMATION DE L'ANALYSTE, L'ÉCOLE SUR LE TERRAIN

Membres, instances, opération

 

LA FORMACIÓN DEL ANALISTA, LA ESCUELA EN EL CAMPO

Miembros, instancias, operación

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

Este trabalho é elaborado a partir de um convite do fórum Aracajú para falar sobre a formação do analista: membros, instâncias e funcionamento na EPFCL-BRASIL. A partir desta incitação ao trabalho, revisões de textos institucionais, históricos e regulamentos internos. Assim como, textos de referência de Jacques Lacan sobre a Escola. A ideia foi percorrer a partir da frase de Lacan: “Não há formação analítica, só há formações do inconsciente”. (Lacan, 1973). De que maneira singular estas formações do inconsciente associam-se a formação do analista e o fazer – Escola.

Palavras-Chave: formação do analista; Escola; membro de fórum e escola; instâncias; funcionamento.

 

SUMMARY

 

This work is based on an invitation from the Aracajú forum to talk about analyst training: members, instances and functioning at EPFCL-BRASIL. From this incitement to work, revisions of institutional texts, history and internal regulations. As well as reference texts by Jacques Lacan on the School. The idea was to go through Lacan’s phrase: “There is no analytical training, there are only formations of the unconscious”. (Lacan, 1973). In what unique way are these formations of the unconscious associated with the formation of the analyst and doing – School.

Keywords: analyst training; School; member of forum and school; instances; operation

 

RÉSUMÉ

 

Ce travail est basé sur une invitation du forum Aracajú pour parler de la formation des analystes : membres, instances et fonctionnement à l'EPFCL-BRASIL. De cette incitation au travail, des révisions des textes institutionnels, de l'histoire et du règlement intérieur. Ainsi que des textes de référence de Jacques Lacan sur l'École. L'idée était de reprendre la phrase de Lacan : « Il n'y a pas de formation analytique, il n'y a que des formations de l'inconscient ». (Lacan, 1973). De quelle manière singulière ces formations de l'inconscient sont-elles associées à la formation de l'analyste et du faire – École.

Mots clés : formation d'analystes ; École; membre du forum et de l'école; instances; opération

 

RESUMEN

 

Este trabajo se basa en una invitación del foro Aracajú para hablar sobre la formación de analistas: miembros, instancias y funcionamiento en la EPFCL-BRASIL. De esta incitación al trabajo, revisiones de textos institucionales, historia y reglamentos internos. Así como textos de referencia de Jacques Lacan sobre la Escuela. La idea era repasar la frase de Lacan: “No hay formación analítica, sólo hay formaciones del inconsciente”. (Lacan, 1973). De qué manera única estas formaciones del inconsciente están asociadas a la formación del analista y del hacer – Escuela.

Palabras clave: formación de analistas; Escuela; miembro de foro y escuela; instancias; operación.

Daniele Baggio Psicanalista, ME – EPFCL, @fcl_al em formação.  R. Desembargador Alfredo Gaspar de Mendonça, 108.Edf Cancale Apto 501. – (82) 99672-7742;

danielebaggio@yahoo.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A FORMAÇÃO DO ANALISTA, A ESCOLA EM CAMPO[ii]

Membros, instâncias, funcionamento

Daniele Baggio[iii]

 

            “Sonhei que estava   em campo”, esta expressão: em campo que tem tantos significados.  Significou em minha análise um e-feito do meu inconsciente enquanto produção. Cito Lacan em (1973) “não há formação analítica, só há formações do inconsciente”.

            Debruçada a tempos neste tema que tenho um apreço.  “A formação do analista” e neste momento, estudando o seminário 5 de Lacan – As Formações do Inconsciente, em Seminários, Cartel. Meu trabalhador incansável frutifica em elaborações: sonhos, lapsos, ato falhos, chistes...(de) formação; formações...

            Isso remete Lacan.  Quando diz que a aposta é nos dispositivos; Cartel e Passe. (1964)

            Neste sonho que estava em um campo verde, aberto, a analista tinha além do meu, outros nomes. Condenso isso a outro sonho: Precisava escalar. Ela interpreta: Ex- calar?. Algo que me causa! O inconsciente é a política, Lacan (1967).

            Mas, que isso tem a ver com a formação do analista? Bem, neste campo, lacaniano, desejo que o próprio Lacan almejou que um dia fosse chamado o campo do gozo: onde se regula o gozo no laço social. Esta palavra está em vários momentos de seu ensino: campo da linguagem[iv], campo freudiano[v] e campo do gozo[vi].

            Desde a cisão com AMP (1998) em Barcelona, uma iniciativa com objetivo de debater a crise pela qual passava as escolas ligadas a AMP (Associação Mundial de Psicanálise). Esta “comunidade” chamou-se Campo Lacaniano. Cito Andrea Rodrigues no artigo publicado em stylete 1.

Em 2001, funda-se a EPFCL e passou a intitular-se IF-EPFCL. De modo que: se esta escola se reconhecia lacaniana, isso implicava, necessariamente, os dispositivos de escola: Cartel e Passe. E nestes lugares pudessem acolher o conjunto: Fórum-Escola.

            Os fóruns não são Escola já é sabido, como afirma a carta da IF, eles participam da manutenção dos objetivos da Escola e são orientados rumo a ela. Os fóruns hoje espalhados por muitas cidades do mundo, se reúnem sob a orientação e federação da Internacional dos Fóruns da EPFCL.

            Lacan ao propor a escola, o faz em outras bases. Assim como Freud, está preocupado com o “ensino da psicanálise” declara uma necessidade de um retorno a Freud. “É preciso demonstrar o que a psicanálise não é”. (1957). Buscar um meio de recolocar em vigor aquilo que não cessou de sustentá-la em seu próprio desvio” e atrelar ao tratamento dado ao Real pela clínica psicanalítica”.

            Esta é já era uma preocupação freudiana, quando ele e Jung embarcam rumo aos Estados Unidos e ele avista a estátua da liberdade diz: “eles não sabem que estamos trazendo a peste”. (1909-1910). Essa frase carrega um chiste relativo ao ensino da psicanálise.

Cito Lacan: “Um ensino não significa que com ele, vocês tenham aprendido alguma coisa;

que dele resulte um saber”. (1997-2003). “Cada psicanalisante é forçado a reinventar a psicanálise”.

            Estar em Campo, é também desafio.

            Na atualidade, continuamos a trabalhar pela Causa, e quando isto acontece num Campo. “Numa escola”, com outros pares, ainda que não haja plena garantia, há contágio, “empexteamento”, alegria, trocas, debates constantes que prezem pela ética e bom funcionamento dos dispositivos zelando para que o funcionamento burocrático não sufoque as novas idéias nem constitua obstáculos aos empreendimentos inesperados desde que compatíveis as finalidades do fórum.

            Lembrando que: um fórum deve permitir a cada membro:

- Engajar uma formação em cartéis, nossos órgãos de base e, além de sua eventual formação pessoal, seguir as atividades mais amplas da Zona “(Encontro Nacional anual, em Belém; Internacional a cada 2 anos,  em Paris,... ) :  Começar a se integrar na comunidade de trabalho de sua Zona, “(Espaço Escola, Seminários, Rede de Pesquisa...)” além de laços singulares constituídos no grupo. - Conhecer os princípios e as estruturas que organizam a IF e a Escola que a orienta.

            Uma questão que surge, no cotidiano: Como entram os novatos?

Lembremos Lacan (1980, ao D’Écolage): “ás voltas com a aposta na dissolução cuja consequência seria um novo modo de entrada a partir de um laço social inédito. Ele dá partida à Causa Freudiana e para tal restaura o cartel como o órgão de base da Escola, propondo aprimorar os princípios básicos de seu funcionamento a partir de algumas condições. Nunca é demais retomá-las. Ele dirá que quatro se escolhem para empreender um trabalho que deve ter um produto próprio a cada um, não sendo, portanto, coletivo; a conjunção destes que se juntam em torno de um tema comum se dá em torno do Mais-um, cuja função é velar pelos efeitos internos advindos dessa empreitada, provocando nela a elaboração; após um tempo de trabalho, que deve durar dois anos no máximo, deve-se fazer a permutação, evitando, assim, o efeito de cola. Por fim, lembra que o esperado desta experiência não é o progresso, mas uma exposição a céu aberto dos resultados e das crises de trabalho.”

O que nos leva a um fato contundente: o cartel é um dispositivo de trabalho impensável fora da Escola.

Além disso: apesar dos 20 e poucos anos, deste campo, lacaniano, as questões persistem. Mas, com alguma experiência sabemos o que tem funcionado melhor: entrar via cartel, trabalhando. Ter assiduidade nos seminários, atividades, escolher! Dentre tantas atividades ofertadas pelos fóruns locais, o que lhe causa. Estar concernido no tripé...

Vamos aos membros:

Em 2021, Beatriz Oliveira escreve uma atualização do famoso texto: Membro de fórum, membro de escola, dez anos depois.

Neste relata que: nossas instâncias responsáveis pela garantia (CIG) [vii]e pelo funcionamento da Internacional dos Fóruns (CRIF) [viii] através das assembleias de membros, vem atualizando a carta de princípios da IF a fim de que esteja conforme os debates. Uma alteração importante para EPFCL foi a abertura a todos os membros de escola a possibilidade de indicação  de AME (Analista Membro de Escola). Em 2016. Esta mudança foi consequência de uma longa discussão pelo (CIG) que levou em conta os problemas existentes no fato de que, antes só AME poderiam fazê-lo.

            Diante disso, desde o último CIG ficou aberto o debate a respeito do que espera-se de um membro de Escola e quais os critérios para a entrada na Escola. Partindo do princípio que não se trata de uma diferença burocrática, hierárquica. Tarefa para as Comissões de Acolhimento Locais.

            O fato é que: mesmo estas comissões locais têm eixos que determinaram os princípios da coerentes com a escolha por um funcionamento no fórum em que a transmissão e o ensino da psicanálise não estivessem dissociados da orientação de Escola, a qual se sustenta pela formação analítica através dos dispositivos propostos por Lacan: o Cartel e o Passe. Dessa maneira, a instância de ensino, pesquisa e transmissão pode ou não estar designada as atividades que o fórum sustenta: “Formações Clínicas”, por exemplo.

Ana Laura Prates Pacheco (2007) em entrevista Luis  Izocovich publicada em Stylus, p. 211 apud OLIVEIRA, 2021. relata que: “há pessoas interessadas pelo discurso analítico, querem pertencer a uma comunidade orientada pelo discurso analítico, mas não querem firmar-se mais em questões relativas à formação do analista. Elas têm um lugar nessa comunidade, inclusive por portarem objetivos diferentes: não visam, necessariamente, ser analistas, mas se sentem concernidas pelo discurso analítico. Estas pessoas tem um lugar nos fóruns.” “Bem, por outro lado, a Escola apresenta uma especificidade: a de receber aquelas pessoas concernidas não só pelo discurso analítico, mas também pela formação do analista, perguntando o que é ser analista. Isso delimita dois campos diferentes, dois campos conectados, não dissociados, pois ambos são orientados pela Escola. Ela dá uma orientação ao conjunto, permitindo tal liberdade de estar dentro de uma associação sem necessariamente estar com a exigência a respeito do que é ser analista”.

De acordo com o que coloca Izcovich, podemos entender que o desejo de fazer Escola é uma consequência possível do trabalho na comunidade dos fóruns e não necessária. Ou seja, a questão da formação analítica está colocada para o membro de Escola, mas não necessariamente para o de fórum.

            Conforme Beatriz Oliveira: “o que devemos esperar de um membro de fórum? Há pelo menos dois pontos que nos parecem fundamentais: 1) Que o sujeito possa dizer as razões de sua opção em participar desta comunidade. É comum que a pessoa já circule há um tempo na comunidade, frequente vários seminários, encontros de trabalho, mas em um determinado momento decida ser membro do fórum. Os motivos são singulares e dizem respeito à relação que o sujeito tem com a causa analítica. De fato, pode ser que nem todos venham já orientados em relação à proposta de Lacan sobre a formação de um analista e sua proposta de Escola. Mas não seria o caso de dizer que a orientação vem depois da opção? Como diz Soler (1999, p.230): “Aquilo que no início dos anos 90 chamei de “a opção” refere-se ao ato de instauração, do qual procede tudo que se elabora a partir de um discurso. A opção portanto tem precedência lógica sobre a orientação…” Com isso, podemos manter nossa aposta de que o fórum, por estar orientado pela Escola, ofereça condições de possibilidade para que cada um seja tocado pelas questões de Escola. O que cada um fará com isso não é possível determinar a priori. Assim mantemos a mesma lógica inicial da seleção inclusiva, qual seja, é necessário um tempo para que se decida pela implicação na Escola. Um tempo para compreender que não esteja dado pela cronologia. 2) Que o sujeito esteja de acordo e possa dizer a respeito dos três objetivos colocados na Carta da IF, explicitados anteriormente: a crítica do que se diz em nome da psicanálise no conjunto das diversas correntes do movimento psicanalítico e das práticas institucionais que se propõem sustentá-la; a articulação com os outros discursos, assegurando a repercussão e a incidência dos discurso analítico no seio dos outros discursos; a polarização em direção a uma Escola de Psicanálise de onde tomam seu sentido. Sobre isso espera-se que um membro se posicione.”

Dadas estas condições para se tornar um membro de fórum, o que podemos esperar de um membro de Escola? Atualmente, nos princípios diretivos da EPFCL (2018), encontramos alguns indicadores importantes. Além de explicitar de quais textos lacanianos toma sua referência, ali encontramos quais as funções da Escola (ítem IV): 1. sustentar “a experiência original” em que consiste uma psicanálise e permitir a formação dos analistas; 2. outorgar a garantia dessa formação pelo dispositivo do passe e pela habilitação dos analistas “que deram suas provas”; 3. sustentar “a ética da psicanálise que é a práxis de sua teoria” (Jacques Lacan). No entanto, em relação ao que se espera de um membro de escola, encontramos muito pouco: 1. Aqueles que querem se engajar na Escola dirigem sua demanda a uma comissão de acolhimento seguindo as condições do art. XIII dos presentes Princípios Diretivos. 2. As admissões dos membros da Escola são decididas pela comissão de acolhimento em função, sobretudo, da participação efetiva nas atividades da Escola e na “experiência da Escola” em um cartel. Em função das experiências das diferentes comissões de acolhimento locais ao longo dos anos, em 2018, o CIG publicou na ECHOS 12, um anexo ao Regimento do CIG no qual acrescentou mais alguns pontos que norteiam essa admissão: 3. .Anexo: a admissão de membros da Escola A) A articulação entre a admissão no Fórum e na Escola. A regra que consiste em entrar primeiro no Fórum e em seguida na Escola parece dever ser mantida. No entanto, ela deve ser aplicada com tato e em casos excepcionais pode-se pensar numa admissão simultânea, no Fórum e na Escola. B) A questão dos critérios foi retomada e levou às seguintes sugestões: Duas entrevistas ou uma entrevista com duas pessoas não parecem excessivas. Leva-se em conta a participação regular nas atividades do Fórum ou do Polo, notadamente nos cartéis, e eventualmente, no Colégio Clínico ou nas Formações clínicas de pertencimento do candidato. Mas a questão de uma participação mais ampla nas atividades nacionais, por exemplo as Jornadas, deve ser levada em conta. Na medida em que nossa Escola tem dispositivos internacionais, a dimensão internacional não pode ser ignorada. É necessário que pelo menos na primeira entrevista, essa dimensão seja apresentada ao candidato se ele a ignora, a fim de que ele saiba, antes de sua segunda entrevista, onde ele está se propondo entrar. Os trabalhos publicados depois das Jornadas, dos inter-cartéis, etc., são fatores objetivos de implicação do candidato a serem levados em conta. Consultar o analista ou o supervisor não pode ser uma obrigação. Cabe à Comissão julgar se, neste ou em outro caso, tal consulta poderia ser oportuna Além destes indicativos, atualizados em 2018, devemos levar em conta, nesta discussão sobre o que se espera de um membro de Escola, o fato de que aos membros de escola, a partir de 2018, coube também a função de indicar candidados a AME. Ou seja, o que se acrescentaria a estes indicadores a partir disso? Vimos que, diferente de um membro de fórum, o membro de Escola seria aquele que deseja participar das questões de Escola e se pergunte a respeito do que é um analista, o fim da análise e se oriente em relação à proposta de Jacques Lacan de sustentação dos dispositivos de Escola: o passe e o cartel. Não só isso, acompanhando nossos “Princípios Diretivos para o funcionamento da Escola”, também se espera que já tenha a experiência em carteis, participado de funções de ensino e transmissão em seus fóruns, dos encontros nacionais. Ou seja, me parece que procuramos indicativos que podem dizer sobre a orientação do membro que deseja entrar na Escola, embora saibamos que somente a posteriori se verificam as provas de sua opção e posição. Assim, levanto aqui alguns pontos sobre os quais me parece importante que um membro de Escola se posicione: 1) Sobre a Escola de Lacan; 2) Sobre os princípios diretivos da EPFCL; 3) Sobre os órgãos de base da Escola: Cartel e passel; 4) Sobre as funções da garantia: AE e AME; Logicamente, sabemos que o conhecimento sobre cada um desses pontos não diz necessariamente sobre a posição subjetiva daquele que queira ser membro de Escola, mas me parecem elementos que norteiam aqueles que se sentem concernidos à formação analítica e à transmissão da psicanálise na EPFCL. “a ética da psicanálise que é a práxis de sua teoria”. A formação dos analistas é contínua, o fazer-escola também.”

Quero concluir este, agradecendo este espaço; com música, “campo harmônico.  

 

...e basta contar compasso

e basta contar consigo,

que a chama não tem pávio.

De tudo se faz canção

E o coração na curva

De um rio, rio, rio, rio, rio, rio.

..quero ver então a gente, gente, gente...

Porque se chamvam homens

Também se chamavam sonhos

os sonhos não envelhecem (Milton Nascimento).

 

REFERÊNCIAS:

INTERNACIONAL DOS FÓRUNS DO CAMPO LACANIANO. Carta da IF-EPFCL, 2008 e seu anexo. Atualizada depois da Assembleia Geral de setembro de 2018 e o voto eletrônico de março de 2019 In: www.champlacanien.net IZCOVICH,L. Entrevista com Luis Izcovich. In: Stylus: revista de psicanálise, n.15, novembro de 2007. Rio de Janeiro: Associação dos Fóruns do Campo Lacaniano. Entrevista concedida a Ana Laura Prates Pacheco e Silvia Franco. FÓRUM DO CAMPO LACANIANO – SÃO PAULO. Boletim do FCL-SP, 2010.

FREUD, S. (1909) Notas sobre um caso de neurose obsessiva. Edição Standard. Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. X. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LACAN, Jacques. Ata de fundação da Escola Freudiana de Paris. 1964. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 2003.

LACAN, Jacques. Seminário 5. 1957. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 1999.

Lacan, J. (2003). Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. In J. Lacan. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.   

LACAN, J. (1973). “Intervention à l’EFP, le 3 novembre 1973”. In: Lettres de l’École Freudienne de Paris, nº 15. Inédito.

LACAN, J. (1901-1981). Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

OLIVEIRA, Beatriz. MEMBRO DE FÓRUM. MEMBRO DE ESCOLA.1 10 ANOS DEPOIS. Disponível em: file:///C:/Users/Daniele/Downloads/MEMBRO%20DE%20FORUM%20-%2010%20anos%20depois.%20BEATRIZ%20OLIVEIRA.pdf

RODRIGUES, Andrea. IF-EPFCL, EPFCL-BRASIL, EPFCL, FCCL, FCL- Nossa sopa de letras.  Diponível em: https://65cb68af-d40c-48ad-803f-1e225d9f5808.filesusr.com/ugd/d3c58b_898f8f13abf7404086220c4326938e7e.pdf

ROUDINESCO, Elisabeth & PLON, Michel. 1998. Dicionário de psicanálise. Trad. Vera Ribeiro, Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 195-201.



[i] Trabalho feito para o Espaço Escola no Fórum do Campo Lacaniano Aracajú em 20/05/23. Enviado p publicação: Folhetm, FCL RJ.

 

 

 

[iii] Psicanalista, ME – EPFCL, @fcl_al, danielebaggio@yahoo.com.br

 

[iv] Proposta de Lacan sobre a relação entre inconsciente e linguagem. Aquilo que por ser impossível designar tem como função causar a linguagem.

[v] Campo Freudiano: foi o lugar e o antecedente de onde surgiram e foram constituídas as sete Escolas do Campo Freudiano que com a Escola da Causa Freudiana, pertencem atualmente a AMP.

[vi] Campo do Gozo:  nome que evoca o conceito de Jacques Lacan do campo do gozo estruturado pelos discursos como laços sociais.

[vii] CIG (Colegiado Internacional de Garantia): Ele assegura o funcionamento do dispositivo internacional do passe e da Comissão de Habilitação Internacional, e confere os títulos da garantia.

 O CIG 2023-2024 está composto pelos seguintes 17 membros, que foram eleitos em seus dispositivos de Escola respectivos :

França e adjacências: Armando Cote, Dominique Touchon Fingermann (secretariado para a Europa), Martine Menès, Anne-Marie Combres, Mireille Scemama, Didier Castanet, Radu Turcanu

Espanha: Díaz González Mª Jesús, García Sanz Rebeca, Arévalo Pedro Pablo, Trías Sagnier Teresa

Brasil: Ana Laura Prates, Glàucia Nagem

América Latina Sul: Alejandro Rostagnotto, Carolina Zaffore (secretaria para a América)

América Latina Norte: Ricardo Rojas

 

[viii] CRIF (Colégio de Representantes da IF): Esse Colegiado é composto pelos Representantes eleitos respectivamente por cada zona da IF. Ele representa a unidade do conjunto. Sua função não é de direção mas de informação, de comunicação entre os diversos fóruns, de realização das publicações da IF e de sua gestão financeira. Ele convoca a cada dois anos a assembléia da IF e estabelece sua pauta, apresentando nela seu relatório.

CRIF 2023-2024

SOLER Colette (Zone Francophone);SANTOS GARRIDO Francisco José (España);GUARRESCHI Luciana (Brazil);ESPINA Gioconda (ALN);FERRI Daniella (ALS);MALQUORI Paola (Italia);SCUDERI Carmelo (English speaking zone);ERYÖRÜK Zehra (Zone plurilingue)


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Alienação: Paixões do Ser; Separação: Paixões da Alma: Não sem passar pelo corpo

 

A questão que nos causa este trabalho é tentar distinguir paixões do ser como alienação e paixões da alma como separação. Tentando elucidar a partir dos afetos sentidos no corpo e transicionados a um saber o que fazer com isto “savoir-faire”.

 As paixões do ser são paixões da relação com o Outro. Amor, ódio e indiferença: tem a ver com uma relação. Já as paixões da alma por assim dizer: tristeza, o gaio saber, a felicidade, a beatitude, o tédio e o mau humor têm a ver com uma separação, ou resumidamente dizendo: tristeza e mania, conforme Laurent citando Lacan em Televisão. Afetos de um final de análise, por assim dizer, Izcovich 2011, p. 123.

Tal operação é possível através do atravessamento da fantasia. Esta experiência de “alma” passa pelo corpo com este atravessamento. É uma direção muito profunda, no ensino de Lacan, a respeito das dificuldades que tem o sujeito com seu corpo.

Os termos que figuram em Televisão, 1973 estão postos como: A tristeza como um saber, lúcido. O gaio saber, vivente. A felicidade articulada a cadeia significante. A beatitude onde não falta nada. E o mal humor que tem um toque de Real. Tais afetos; comporta um: Não é isso. É uma solução a partir da qual se trata de construir uma harmonia possível, uma relação possível entre desejo e gozo.

Mas há ainda o entusiasmo, a alegria de pensar. A relação da cadeia significante. Que faz Lacan afirmar que, se na saída de uma psicanálise não houver entusiasmo, não há analista.

Se o sujeito é falta, a forma como sujeito se percebe como um ser sempre se constrói. (imisção com a alteridade). Por isso, Lacan demarca como única essência verdadeira do sujeito, a falta.

A separação seria então a travessia do fantasma, separando o sujeito dessas fixações, da repetição dessa posição de gozo e desse vínculo ficcional com o desejo do Outro, podendo, através dessa perda, entrar em contato com a falta como a verdadeira causa do desejo, para além de suas alienações.

 O que chama atenção é o fato do termo alienação ter também o sentido de separação, distanciamento. Explico com: Zanola, 2018 que cita Lacan Seminário 11 em que a separação implicaria em um retorno a alienação, na qual o sujeito se fixa como objeto frente ao desejo do outro. Indicando que: há uma separação derradeira, permitindo o sujeito se separar do segundo sentido apresentado da alienação, deparando-se com a falta como causa do desejo para além de sua fixação.

Entendemos que a separação se refere ao percurso que vai do sujeito como falta a ser para a articulação do desejo como desejo do Outro. Porém, o sujeito deverá renunciar ao gozo do ser (a satisfação incestuosa) que deveria ser rompida para o desenvolvimento do sujeito enquanto desejante.

 Zanolla acrescenta ainda, na busca de se fazer representar pela via do significante, característica da alienação, o sujeito entra na tentativa de resgate não só de uma representação mais sobretudo de um gozo perdido. Isso representa um esforço de reencontrar uma estabilidade a qual fica abalada uma vez que perdemos o ser.

Isso seria dizer que não há destituição subjetiva[1] sem desestabilização do sujeito? Fiquemos com a interrogação.

Dito isto, conseguimos então fazer a questão que nos causa este trabalho. As paixões do ser como sendo paixões da relação com o Outro. E as paixões da alma como fruto de um trabalho de final de análise que se dá por afetos específicos sentidos no corpo e transicionados para um amor ao saber ou de forma mais prática: um saber o que fazer com isso, que passa pela satisfação inédita, incluindo uma forma de transmissão disto?

Ainda sobre os afetos é válido dizer com Izcovich, 2011, p. 123 que a relação do sujeito com os afetos é sempre singular e marca um estilo.  Esta relação é um efeito de discurso que faz marca no inconsciente e produz um ser afetado pelo inconsciente. Depois de uma análise, dos efeitos da transferência sobre os afetos, seus efeitos são imprevisíveis e considerados caso a caso.

Conforme este mesmo autor se na entrada em análise a lógica motor da cura é o amor de transferência, efeito de um amor inconsciente, a angústia constitui sua bússula porque é indício de um sujeito concernido pelo enigma do desejo do Outro.

Uma vez que a angústia é inerente a estrutura do sujeito também é inerente a estrutura do discurso analítico, que se verifica no discurso onde o analista em posição de agente se dirige ao outro em posição de divisão, que permite um levantamento da repressão, portanto um desejo novo. Por que antes o sujeito havia vivido com a experiência de um desejo marcado pela repressão.

Ainda conforme Izcovich, p. 128 a angústia legítima é indício da eminência de um desejo legítimo, de um encontro que aponta a emergência de um desejo inédito. Isso indica um momento muito preciso entre o horror de saber e sua causa e o que isso produz. Há aí um benefício epistêmico que produz novos efeitos a respeito do que era designado como paixão da ignorância.

Há ainda outro afeto: a depressão, ou dito de outro modo quando uma análise produz efeitos sobre o desejo, comprovamos que sempre no horizonte há uma emergência de afetos negativos. O que ocasiona uma “bipolaridade” em que o sujeito oscila entre euforia e depressão.

E quanto a isto não há semblantes, há o real. Uma experiência de vazio que ordena a vida do sujeito a posteriori. Há ainda a necessidade de falarmos da vergonha como real. Lacan citado por Izcovich p. 130 aborda a vergonha como um afeto separado, ligado ao cara a cara com a morte e que a radicalidade da experiência com a vergonha permite uma dignidade com a vida. 

Morrer de vergonha é então um afeto fundamental porque é um indício de virada pelo qual o sujeito se extrai radicalmente do discurso do Outro.

Depressão real, angústia legítima, morrer de vergonha e horror de saber são afetos do real que um analista tem que fazer feito sentir seu analisante. São as condições de um efeito, de uma satisfação. Nos resta saber como? Caso por caso. Mas, sem a experiência dos afetos não há satisfação inédita. E para encerrar com o título deste trabalho, sem passar pelo corpo não há travessia.


Referências:

Dunker, Chisthian. Destituição Subjetiva. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tnTid417ayU. Ed. 1996.

Freud, S. Inhibicion, sintoma y angustia. In Obras completas, Vol. XX, Buenos Aires: Amorrortu.

Hanns, Luiz Alberto. Dicionário Comentado do alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago

Izcovich, Luis. Los afectos em la experiência analítica: Medellin: UPB, 2011.

Laurent, Eric. As Paixões do Ser. Bahia: EBP. Nov. 2000.  

Zanola, Pedro Costa. Pepsic, vol. 51. RJ.2019

 

Trabalho apresentado no XXII Encontro Nacional EPFCL Curitiba Nov/2022. 



[1] C. Dunker disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tnTid417ayU relata a destituição subjetiva conforme os trechos extraídos de Lacan como um momento pós-analítico em que parecia que o sujeito estava desapossado de sua vida e que aí estaria seu reconhecimento, destituição e restituição do sujeito.

sábado, 26 de março de 2022

Abordagens clínicas: um diálogo possível?

 

Simpósio: Abordagens para a Prática Clínica, um diálogo possível?  (26/03/2022) Evento promovido pela Visus cursos e consultoria

Daniele Baggio[i]

Diante das instigantes perguntas recebidas, segue algumas possíveis considerações concernentes a psicanálise.  

1)    

Q  Qual a motivação humana para abordagem psicanalítica?

 

Podemos tentar responder esta pergunta com Lacan: “ há uma demanda verdadeira para se dar início a uma análise — a de se desvencilhar de um sintoma.

Denise Maurano em seu livro: Pra que serve a psicanálise? (2003) nos diz que: quando alguém vem pedir ajuda a um analista é obviamente porque está sofrendo ou, no mínimo, tem alguma questão que está intrigando. Senão, nem tem sentido o encontro. É certo que, as vezes, a pessoa não tem muita ideia do que a traz. As vezes diz: Ah, eu vim porque minha mãe quer que eu venha. “ou: meu médico disse que eu precisava”. ou ainda, é importante para o meu trabalho eu me conhecer melhor.  “São incontáveis as formas de as pessoas chegarem. A questão é que esse pedido de ajuda precisa ser avaliado para que o analista averigue se há algo a ser feito que seja da competência da sua função.

Nem todo sofrimento, ainda que seja um sofrimento psíquico, está na ordem de competência da intervenção de um analista. São inúmeras as questões e respondo-as dizendo que a psicanálise é indicada para tratar todo tipo de doença, dado que não tratamos a doença mas o sujeito que nela está implicado, ou seja, o sujeito que faz da doença um sintoma que chamamos analítico.

Isto é, qualquer sintoma que seja tomado pelo sujeito como fonte de questionamento de si mesmo. É isso que faz com que o sintoma seja analisável. É claro também que não se trata de um questionamento qualquer: trata-se de um questionamento dirigido ao saber inconsciente, saber que o analista deve dar suporte, ou mesmo dirigido a psicanálise, desencadeado ás vezes em um sujeito antes mesmo de ele ter escolhido um analista para o acompanhar.

Um questionamento dirigido pela aposta de que existe, em alguma esfera do meu psiquismo, um saber que age em mim, através de uma outra lógica que não aquela que eu reconheço conscientemente.

Dito de outro modo, um sujeito que procura por uma psicanalise por vezes é um sujeito que sofre em demasia. Todos os sujeitos sofrem, mas alguns sofrem demasiadamente.

Renato Mezan em seu livro “O Enigma da Esfinge” tenta responder a isto de uma forma muito instigante, de que um sujeito não escolhe uma “abordagem” por sintoma, tempo de duração, valor, objetivo, demérito á outra abordagem, tampouco escolhe baseado na angústia.

Grifo meu: Um sujeito que escolhe uma psicanálise escolhe também se implicar fazer uma questão sobre seu adoecimento/sintoma/queixa, querer saber o que isto significa, quais são suas causas e por que de tantas consequências.

As entrevistas preliminares em psicanálise servem justamente para isto, para discernir e inclusive ajudar o sujeito a escolher o que melhor lhe compete naquela ocasião. Por que escolher um tratamento, longo, por vezes honeroso e certamente doloroso, não é para alguém que quer se conhecer. É por que algo do sofrimento atravessou e aquele sujeito em questão não quer apenas se desvencilhar do mal-estar e ou reduzir o sintoma,  mas tratar sua causa, saber de sua origem e porque aquele sintoma se formou.

 

2)      O adoecimento e a saúde mental nesta abordagem

 

Esta é uma pergunta interessantíssima uma vez que para a psicanálise o conceito de saúde mental conforme Freud (1932-33) é essencialmente amar e trabalhar. Em linhas gerais sabemos que o desequilíbrio nestes pilares da vida causa abalos desestabilizantes ou o sujeito sofre de amor ou de trabalho, ou dos dois.

Freudianamente falando também sabemos que o adoecimento e/ou a formação de um sintoma é uma carta de amor. E como toda carta de amor, esta, deve ser lida, muitas vezes traduzida. Esta é a função de um analista. Uma vez que o sintoma quer falar, mas sua linguagem não é tão simplesmente decifrável. Saber qual o destinatário da carta e o que isto significa.

Cito Freud: “Os sintomas e referimo-nos aqui, naturalmente, aos sintomas psíquicos, são atos prejudiciais à vida como um todo, ou pelo menos inúteis, dos quais frequentemente a pessoa se queixa como algo indesejado e que traz sofrimento ou desprazer. O principal dano que causam é o custo psíquico que envolvem além daquele necessário para combate-lo esses dois custos podem resultar num extraordinário empobrecimento de energia psíquica disponível e assim, numa paralização do enfermo no tocante as tarefas importantes de sua vida”.  (FREUD, 1916-17 p. 476).

Em 1926/1980 “Inibição, Sintoma e Angústia” Freud apresenta o sintoma como “um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que permaneceu em estado jacente; [o sintoma] é uma consequência do processo de recalcamento” (Freud, 1926/1980, p. 112).

Com Freud aprendemos que a causação da neurose se dá pela predisposição mediante a fixação da libido + vivências traumáticas acidentais (FREUD, 1916-17, p. 480). 

Dito de outro modo, há algo na realidade atual que abala o psiquismo e que a partir deste “acontecimento” o sujeito passa a formar um sintoma, ou a melhor dizendo desencadear algo que já estava alí mais ainda não havia “precisado” se manifestar.  Lembrando que para psicanálise o sintoma é sempre uma defesa, uma espécie de proteção de algo que o psiquismo não consiga suportar naquela ocasião. O que preocupa é que na maioria das vezes este sintoma que na verdade nos serve como sinal de algo não está em seu melhor estado de funcionamento é negligenciado, anestesiado com excesso de medicamentos, drogas, álcool, atos, etc e tantos outras formas de “fuga” de tratar a questão adequadamente. O que só agrava e torna cada vez insuportável o nível de angústia. O sintoma impede o sujeito de seu desejo, e isso talvez seja uma das coisas mais caras que se “pague” na vida, pela doença e pela ignorância, cito Freud: “nada na vida é tão caro quanto a doença e a estupidez” (1913).

 

3)      O processo de mudança nesta abordagem

Há algo que ocorre logo no início de uma psicanalise que Freud nomeou de “tratamento de ensaio” (1913/1914), isto é um período de algumas semanas/meses em que o sujeito faz algumas entrevistas, Lacan denominou: entrevistas preliminares. Na psicologia chamamos de:  entrevistas iniciais ou contrato. Nesta perspectiva teórica, tais entrevistas tem três funções: a de: diagnóstico, a de estabelecimento ou verificação da transferência e a função sinto-mal, aqui estou citando Antonio Quinet em seu livro: As 4+ 1 condições da análise. Esta função “sinto-mal” ela é compreendida como função a medida que o sujeito passa do estatuto de queixa, que é como ele chega (vitimizado) ao estatuto de causa (responsabilização e giro desta condição) isto é, há uma pequena “mudança” logo no início do tratamento que é na maneira como sujeito conta acerca de sua história e como se implica com seu próprio adoecimento.

Dito isto, também é comum que o sintoma - queixa, este inicial em que o sujeito chega até a análise ele reduza ou desapareça rapidamente. O que não quer dizer que esteja solucionado ou tratado. Mas, o fato do sujeito falar, “tratamento pela fala” como diria Freud, já começa a trazer efeitos terapêuticos.

Porém falar em mudança já é algo mais complexo ou que pelo menos nos instiga a mais estudos e questionamentos. Uma das questões que me ocorre pensar é: o sujeito realmente muda? ou a relação dele com a coisa é que muda? Não que isso seja pouco, mas só para problematizar ou instigar, porque em psicanálise também sabemos que a repetição está aí para nos mostrar que “não cessa de não se inscrever”, portanto a questão que eu deixo é esta, os efeitos terapêuticos são consideráveis, a perspectiva diferente que o sujeito tem diante da vida é inegável, mas o traumático está e sempre estará alí, mas visto ou sentido de outro modo. Podemos chamar isto de mudança?

Bernard Nominé em sua última conferência no último dia 12/03/22 em no Fórum Fortaleza nos disse: “Uma análise possibilita que se troque o objeto da pulsão. No fim da análise, a pulsão não desaparece. Mesmo na sublimação, a pulsão segue pulsando, mas com outro objetivo, o qual toma distância da repetição e da morte. Como viver a pulsão, que, no fundo, tem a ver com a morte? Trata-se disso: VIVER a pulsão e não apenas lidar com ela. O que mais se opõe à pulsão de morte é o AMOR.

Oui, "a morte se desconta vivendo"

 

 

Referências:

FREUD, S.     OBRAS COMPLETAS, VOL. 13. CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS Á PSICANÁLISE. SÃO PAULO: CIA DAS LETRAS, 2014, P. 475-500.

FREUD, S. O CASO SCHREBER, ARTIGOS SOBRE A TÉCNICA E OUTROS TRABALHOS. (1911/1913). 1ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

FREUD,S. “INIBIÇÃO, SINTOMA E ANGÚSTIA. ”(1926),v.20, Rio de Janeiro: Imago,1976, p.95-207.

FREUD,S. NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE (1933 [1932]). Rio de Janeiro: Imago, 1933.

MAURANO, Denise. Para que serve a psicanálise? 3ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed.

2010. 64p.

MEZAN, Renato. O enigma da esfinge: ensaios de psicanálise. 3 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

NOMINÉ, Bernard. XV Seminário do Campo Lacaniano de Fortaleza em 12/03/22.

QUINET, Antonio. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 2009.

 

 

 

 

 



[i] [1]Mestre em Psicanálise, Psicóloga, Psicanalista Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano,danielebaggio@yahoo.com.br