sábado, 19 de março de 2022

Sobre a queda do(s) objeto(s) e a animação ou sobre o "Garfinho" do filme Toy Store 4

 

  • Sobre a queda do(s) objeto(s)
    i
    e a animação ou
    Sobre o “Garfinho” do filme: Toy Store 4
    ii
    Daniele Baggio
    iii
    O filme “Toy Store 4” fala sobre mudança.de cidade, de escola, de amigos, de
    perspectiva, de viagem!
    Andy, o protagonista dos filmes anteriores, cresce e vai para faculdade; doa seus
    brinquedos a Bonnie, sua vizinha, uma criança, que está também às voltas com a
    mudança de cidade e escola, em decorrência do trabalho dos pais.
    Na escola nova, a sensação de deslocamento e estranheza de estar em lugar
    novo, sem amigos, causa-lhe causa angústia.
    Na aula, Bonnie se fora, despertencente. Olha para baixo, para o lixo e
    alcança, não sem uma mãozinha do amigo Wood (o cowboy), um garfo descartável -
    “Forky”, a este objeto, elege um lugar. O “faz” amigo e o anima! Quer dizer, o tenta
    fazê-lo. Coloca nele braços, pernas, rosto, nome, a ele um lugar: o de amigo e
    protagonista. Uma linda adoção! Pela psicanálise, sabemos que a - “dotar” um sujeito, é
    dotá-lo de algo, o amor, o lugar, a nomeação.
    Porém, o que mais chama atenção é que “Forky” o Garfinho, não consegue,
    ocupar este lugar, que os tantos outros brinquedos queriam. “Wood” (o cowboy),
    também em crises existenciais, não sabe como lidar com o não protagonismo. Conversa
    com Garfinho, ampara-o, coloca-o no colo e caminha na intenção de, lado a lado, poder
    explicar de que ele tem “sorte”, foi eleito a ser o brinquedo preferido, o amigo da vez.
    Tantos outros brinquedos passam pela existência de não ter sua função exercida. No
    filme, fica claro que o sonho de todo brinquedo é fazer uma criança sorrir, por um
    tempo pelo menos.
    O filme critica sutilmente o capitalismo e os brinquedos descartáveis. Mas, neste
    trabalho não como se deter a esta questão, porque daria outro estudo. E, neste,
    gostaria de falar do sem- lugar, objeto-lixo, descartável, tão bem representado pelo
    Garfinho.
    A sabedoria do texto/ roteiro do filme é de impressionar.
    Garfinho, sabendo que é “objeto”, insiste em “cair” (psicanalistas entenderão). E a
    função do objeto não é justamente esta?
  • scartável e lixo como se sente, não quer o lugar que lhe deram. Quer voltar para
    o lixo. Ali consegue dormir, ali consegue exercer sua subjetividade. Até que, por
    contingência da vida fica preso em um armário, com uma outra boneca que nunca teve
    sua criança. E, pelo olhar de desejo daquela boneca (Gabi-Gabi), que passa a vida
    achando que não foi “eleita” por que não tinha uma caixa de voz adequada, passa o
    filme, ou melhor, a vida, tramando roubá-la de Wood até que, numa negociação à la
    “Mercador de Veneza”
    iv
    pela libra de carne ou, melhor dizendo, para salvar o Garfinho
    do aprisionamento, Wood cede a caixa de voz. Rasga-se, arranca-a e costura-se de novo.
    Nessa versão costurada, encontra um Amor, antigo? Beth, a pastora de ovelhas, que se
    redescobriu após a saída do quarto para um parque de diversões, oferece a mão a Wood,
    e entendem que seus sentidos de vida, ou melhor dizendo, o que os anima é: alegrar as
    crianças, agora num parque de diversões.
    Garfinho nos uma lição, quando olha (Gabi Gabi) que, também com a ajuda
    de Wood, consegue cair e, na queda, o encontro com uma criança perdida no parque;
    “perdidas” se dão as mãos e seguem num abraço.
    Após assistir todas estas cenas, Garfinho finalmente se anima em seguir viagem com
    Bonnie e outros brinquedos.
    Quantas reflexões esse filme traz, sobretudo a que mais marcou foi: todo desejo
    é desejo do Outro.
    v
    Um “amigo estou aqui”, faz toda diferença! E a Re-existência, de
    um sujeito ocorre a posteriori, depois de tantas “quedas” de objetos. O sentido surge
    no “só depois”, no inédito e na singularidade de cada ser. Mas ainda bem, que nas
    quedas de objetos e/ou ilusões existem também “animações”.
    vi
    Referências
    LACAN, J. 1962-63/2005. O Seminário livro 10 A Angústia. Rio de Janeiro: Jorge
    Zahar Editor.
    ROUDINESCO E. e PLON, Michael. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
    Zahar,1998.

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