- Sobre a queda do(s) objeto(s)ie a animação ouSobre o “Garfinho” do filme: Toy Store 4iiDaniele BaggioiiiO filme “Toy Store 4” fala sobre mudança.de cidade, de escola, de amigos, deperspectiva, de viagem!Andy, o protagonista dos filmes anteriores, cresce e vai para faculdade; doa seusbrinquedos a Bonnie, sua vizinha, uma criança, que está também às voltas com amudança de cidade e escola, em decorrência do trabalho dos pais.Na escola nova, a sensação de deslocamento e estranheza de estar em lugarnovo, sem amigos, causa-lhe causa angústia.Na aula, Bonnie se vê fora, despertencente. Olha para baixo, para o lixo ealcança, não sem uma mãozinha do amigo Wood (o cowboy), um garfo descartável -“Forky”, a este objeto, elege um lugar. O “faz” amigo e o anima! Quer dizer, o tentafazê-lo. Coloca nele braços, pernas, rosto, nome, dá a ele um lugar: o de amigo eprotagonista. Uma linda adoção! Pela psicanálise, sabemos que a - “dotar” um sujeito, édotá-lo de algo, o amor, o lugar, a nomeação.Porém, o que mais chama atenção é que “Forky” o Garfinho, não consegue,ocupar este lugar, que os tantos outros brinquedos queriam. “Wood” (o cowboy),também em crises existenciais, não sabe como lidar com o não protagonismo. Conversacom Garfinho, ampara-o, coloca-o no colo e caminha na intenção de, lado a lado, poderexplicar de que ele tem “sorte”, foi eleito a ser o brinquedo preferido, o amigo da vez.Tantos outros brinquedos passam pela existência de não ter sua função exercida. Nofilme, fica claro que o sonho de todo brinquedo é fazer uma criança sorrir, por umtempo pelo menos.O filme critica sutilmente o capitalismo e os brinquedos descartáveis. Mas, nestetrabalho não há como se deter a esta questão, porque daria outro estudo. E, neste,gostaria de falar do sem- lugar, objeto-lixo, descartável, tão bem representado peloGarfinho.A sabedoria do texto/ roteiro do filme é de impressionar.Garfinho, sabendo que é “objeto”, insiste em “cair” (psicanalistas entenderão). E afunção do objeto não é justamente esta?
- scartável e lixo como se sente, não quer o lugar que lhe deram. Quer voltar parao lixo. Ali consegue dormir, ali consegue exercer sua subjetividade. Até que, porcontingência da vida fica preso em um armário, com uma outra boneca que nunca tevesua criança. E, pelo olhar de desejo daquela boneca (Gabi-Gabi), que passa a vidaachando que não foi “eleita” por que não tinha uma caixa de voz adequada, passa ofilme, ou melhor, a vida, tramando roubá-la de Wood até que, numa negociação à la“Mercador de Veneza”ivpela libra de carne ou, melhor dizendo, para salvar o Garfinhodo aprisionamento, Wood cede a caixa de voz. Rasga-se, arranca-a e costura-se de novo.Nessa versão costurada, encontra um Amor, antigo? Beth, a pastora de ovelhas, que seredescobriu após a saída do quarto para um parque de diversões, oferece a mão a Wood,e entendem que seus sentidos de vida, ou melhor dizendo, o que os anima é: alegrar ascrianças, agora num parque de diversões.Garfinho nos dá uma lição, quando olha (Gabi Gabi) que, também com a ajudade Wood, consegue cair e, na queda, o encontro com uma criança perdida no parque;“perdidas” se dão as mãos e seguem num abraço.Após assistir todas estas cenas, Garfinho finalmente se anima em seguir viagem comBonnie e outros brinquedos.Quantas reflexões esse filme traz, sobretudo a que mais marcou foi: todo desejoé desejo do Outro.vUm “amigo estou aqui”, faz toda diferença! E a Re-existência, deum sujeito só ocorre a posteriori, depois de tantas “quedas” de objetos. O sentido surgeno “só depois”, no inédito e na singularidade de cada ser. Mas ainda bem, que nasquedas de objetos e/ou ilusões existem também “animações”.viReferênciasLACAN, J. 1962-63/2005. O Seminário livro 10 A Angústia. Rio de Janeiro: JorgeZahar Editor.ROUDINESCO E. e PLON, Michael. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: JorgeZahar,1998.
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