sábado, 6 de agosto de 2011

Conceito de Sujeito


QUEM É O SUJEITO

O conceito de Sujeito é o que constitui o corpus teórico da Psicanálise. Dizer isso implica afirmar que o sujeito para a Psicanálise não é algo desenvolvido, individido, mas constituído. Para explicar como o sujeito se constitui é necessário considerar o campo em que o sujeito é efeito, isto é, o campo da linguagem, reelaborado a partir de Lacan.  
Para a Psicanálise o sujeito só pode se constituir a partir de uma ordem social, quer seja a família, as instituições sociais, ou substitutos jurídicos. Sem isso o sujeito não seria nem de ordem humana (humanizado), nem mesmo vivo (biologicamente), já que sem a ordem familiar ou social o sujeito não sobreviveria. Freud denominou esse estado como desamparo fundamental  do ser humano, porque exige uma intervenção de um adulto próximo que  pratique a atuação necessária à sobrevivência do ser humano. Já Lacan usa a categoria do Outro para falar não somente do adulto (pessoa física) próximo, mas também daquele que tem toda uma ordem simbólica.
A esse Outro, chamaremos de mãe, e é ela que introduz uma ordem simbólica no seu ato de cuidar do bebê.  O Outro que a mãe representa para o bebê é uma ordem significante e não significativa, e o que ela transmite é uma estrutura significante e inconsciente para ela mesma, já que não sabe o que transmite, daquilo que pretende transmitir e isso não é somente um conjunto de valores culturais. Dessa forma o que chega ao bebê é um conjunto de marcas materiais e simbólicas, que são introduzidas pelo Outro materno, que provoca no corpo do bebê um ato de resposta, uma resposta ao ato, resposta essa que, segundo Elia (2004, p.40) é o sujeito.
Para compreender o sujeito é preciso também entender como funciona a temporalidade do inconsciente que, segundo Freud é a posteriori, isto é, o sujeito em sua própria experiência tem um encontro com o Outro materno que se dá em determinado ponto da estrutura, em um determinado momento. Somente depois, num segundo momento, é que esse encontro ganha uma significação.  Para Freud o sujeito não é desenvolvimentista, é no momento da castração que o sujeito pode dar significados aos seus momentos anteriores. Assim, pode - se entender que esse encontro com o Outro, não é um encontro entre duas entidades que pré-existem, pois é somente do encontro com o Outro que o sujeito pode existir. Mas é necessário considerar também que antes que o bebê nasça já existe toda uma cultura, uma família, uma sociedade que já o esperam, assim como também uma linguagem. Existe um conjunto de demandas e de desejos que são dirigidos àquele que vai nascer, que inclusive determinam o fato de seu nascimento. Todavia, esses elementos prévios só ganham sentido quando de fato o bebê está no meio deles.
As necessidades e experiências do bebê só são atendidas por mediação da linguagem, uma vez que todas as exigências e debilidades do organismo só têm sentido através da significação, pelo significante que nos estabelece com nossos órgãos e com nosso corpo. Segundo Jorge, (2005, p.43) o bebê vem ao mundo marcado por um discurso, no qual se inscrevem a fantasia dos progenitores, a cultura, a classe social, a língua, a época. Tudo isso constitui o campo do Outro, lugar onde se forma o sujeito.
Freud, como um bom pensador entre a natureza e a cultura, criou um mito para exemplificar a dimensão vazia, o ponto de disjunção entre essas duas dimensões da experiência. Vejamos em Elia
[...] O Assassinato do Pai da Horda Primitiva, esse mito diz que como sujeitos, procedemos de um ato, um assassinato, que nos arranca da natureza, que nos faz culpados, sem que tenhamos matado Pai algum que fosse encontrável: matamos o Pai-natureza (não a mãe-natureza, porquanto nesta insistamos), e por esse ato ingressamos na cultura carregando uma espécie de “buraco em nossa alma” (ELIA, 2004, p.48).

Esse buraco significa que é só por uma falta no nível do ser que o sujeito tem a condição de emergir, significa também que essa falta é fundadora do sujeito. Para a Psicanálise a falta é o que nos faz sujeitos na cultura.  Portanto, o bebê enquanto ser de necessidade, ainda não é sujeito e o ser que atende essa necessidade é a mãe, o Outro, um ser de linguagem. Ao ser atendido através da palavra o ser de necessidade se vê convocado a cindir seus interesses, fazendo com que não vise somente ao leite, mas àquele que vem junto com leite, a presença do Outro, o colo, o balanço, o cheiro. A criança passa a querer a coisa trazida e aquele que a trouxe.
Retomando Freud e seu mito, é esse pai assassinado que funda a sociedade civilizada, a Lei, o desejo, o campo da experiência que se chama sujeito. “Se o pai da horda nunca existiu e, portanto nunca pode ser assassinado no plano da realidade, o Assassinato do Pai é condição essencial da estrutura do sujeito, sem a qual nenhuma realidade poderá existir como realidade de e para um sujeito” (ELIA, 2004, p.72).    

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