sábado, 6 de agosto de 2011

Dois Anos sem o Rei do Pop


Dois Anos sem o Rei do Pop


Michael Jackson, assim como milhares de pessoas que simbolizam a arte, nos faz entender que são elas que nos interpretam, que nos comovem. A psicanálise não interpreta; são os artistas que nos interpretam - que nos fazem pensar diferente, ver o mundo diferente. . Todos nós temos algo que nos interroga, sabendo que sempre existe um descompasso entre o que se sente e o que se diz. Vivemos desse descompasso. Os artistas vivem isso mais claro e tem a tarefa, a responsabilidade de sustentá-la.
Um exemplo disso é são as diferentes formas como os fãs de Michael Jackson o veem, seja nas Filipinas, no Japão, nos E.U.A ou no Brasil. Essa comoção mundial pode ser explicada por que Michael Jackson além de ter sido um artista revolucionário, foi, também, em virtude de suas escolhas objetais e modificações corporais, alguém que provocou um sentimento de estranheza. Ele inaugurou um senso estético que, para muitos, beirou o grotesco – “a estética do grotesco”.
Todavia, podemos pensar que ao interferir de modo violento no primário (corpo), ele realizou um desejo inerente ao ser humano, de alguma forma, realizar – a modificação deste primário no Real, já que além de fazer inúmeras cirurgias plásticas, Michael também conseguiu concretizar o sonho do eterno, morar em um mundo encantado “Neverland” a terra do nunca de Peter Pan, o garoto que não queria crescer. Mas podemos nos questionar, terra do nunca, o que? Do nunca morrer? Do nunca tornar-se adulto? Do eternizar? Poderia ser, terra do nunca ser, do que não tem lugar, do fora da Lei. 
Atualmente, a quantidade de pessoas que colocam próteses de silicone, fazem cirurgia plástica, lipoaspiração, operação de redução de estômago e etc.,  aumenta cada vez mais e só comprova esta intencionalidade (corpo simétrico). Michael quis ser aquilo que projetou e, no fundo, podemos nos perguntar será que obteve ou não o êxito?  E as pessoas ditas “normais” estão obtendo êxito em suas transformações? Nos dias atuais, isso é chamado de Capitalismo selvagem.  Atualmente vivemos num mundo da primazia da imagem e do objeto, em rápidas e constantes mudanças que, muitas vezes, falham em oferecer sustentação simbólica, referenciais que ajudam a encontrar sentido.
Devemos aproveitar estas ocasiões em que o real se apresenta para que possamos ter mais cuidado com outro. Nós, comumente, nos defendemos com todas as forças do que a sociedade julga como “estranho”, mas se entendermos que ele faz parte de nossa constituição, a vida pode tornar-se menos insuportável e a dor de existir pode aos poucos dissolver-se, através da palavra.  A Psicanálise apresenta uma saída para o sujeito, isto é uma saída aos ideais transmitidos ou absorvidos pelos adultos, pois propõe uma escuta aos impasses, em que através da palavra, o sujeito busque seu desejo, apostando na ética,  na verdade e no inconsciente que nos sujeita.

[1] Daniele Baggio da Silva, Psicóloga/Psicopedagoga, Analista Praticante, membro da IF, da AFCL, do FCL-MS. E-mail: danielebaggio@yahoo.com.br

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